Neste domingo 11/07 tivemos o DIP (Domingo da Igreja Perseguida) com a presença do missionário Augusto Ambrósio trazendo a palavra no culto vespertino. Continuemos em oração pelos cristãos perseguidos.
Abaixo segue o texto preparado pelo Portas Abertas.
“Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque
Romanos 5.3-5
sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um
caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não
nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações,
por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu.”
Introdução
A carta aos Romanos é uma exposição clara do evangelho, que expressa de uma maneira irrefutável a verdade a respeito de Cristo. Ao longo dos séculos, pessoas deram a vida pelas verdades contidas nesse livro. A partir dos seus versos, a verdade salvadora do evangelho foi proclamada e muitos creram. Suas verdades são perigosas, pois são uma ameaça para um mundo que não tem paz com Deus.
Romanos é um livro no qual Paulo dá inúmeras instruções e exortações a respeito do evangelho. Cada parte do livro é escrita por razões bem claras, isto é, ocasiões da época que levaram Paulo a tratar dos assuntos, mas, para além disso, a composição de Romanos revela a nós um verdadeiro compêndio da doutrina cristã.
Logo no início da carta, Paulo formula seu argumento de uma maneira clara e lógica. Isso guiará o desenvolvimento do restante da epístola: o evangelho trata do filho de Deus; ele é o poder de Deus trazendo salvação ao judeu e ao gentio igualmente; ele é a revelação da justiça de Deus, disponível a todos com base na mesma coisa, isto é, a fé em Cristo Jesus.
Quando a tribulação promove a glória
Paulo toma um bom tempo falando sobre a condenação e a justificação, e é no meio desse assunto que os versículos escolhidos para o DIP 2021 aparecem (Romanos 5.3-5). A justificação pela fé faz com que tenhamos paz com aquele de quem recebemos a justiça, Cristo (v. 1). E com ela recebemos também a bênção de nos gloriarmos na esperança da glória de Deus e nas tribulações (v. 2 e 3).
Ter paz com Deus é viver em harmonia e plenitude com ele. Aqueles, porém, que rejeitam o evangelho, vivem em constante oposição a Deus. Esse contraste presente no mundo também faz com que os filhos de Deus enfrentem muitas tribulações terrenas.
Embora isso seja verdade, Paulo inicia com a bênção de nos gloriarmos na esperança da glória de Deus (v. 2), o que nos leva a contemplar a nossa herança celestial, algo muito maior do que qualquer tribulação momentânea. E, somente depois disso, ele afirma que nos gloriamos também nas tribulações (v.3). Embora passar por tribulações e sofrer escárnios de todos os lados não pareça ser uma condição de cristãos abençoados, Paulo declara que suas calamidades, longe de impedirem sua felicidade, até mesmo promovem sua glória.
Paulo demonstra aqui que nem mesmo o sofrimento é capaz de abalar a nossa confiança em Deus por causa da certeza do amor de Cristo. Embora as dores e sofrimentos sejam reais, elas forjam em nós a maturidade de alguém parecido com Cristo, que sofreu dores ainda maiores. E isso é motivo de grande alegria para todo crente pois assim como somos participantes com ele no sofrimento, também seremos participantes na glória eterna. Quando Paulo afirma isso, não significa que os cristãos tenham algum tipo de prazer em meio à dor e ao sofrimento, ou que devam viver em busca das tribulações. Mas é certo que passarão por aflições, tão certo quanto podem ser consolados pela certeza da eternidade gloriosa e incomparável.
Por isso, sempre que passarmos por tribulações, devemos nos lembrar da esperança que há em Cristo, muito maior do que qualquer sofrimento terreno. As adversidades são reais e dolorosas, contudo, se temos paz com Deus, temos tudo e nada nesse mundo deve nos abalar. Nossa glória não é meramente pela tribulação vir até nós, mas por termos sido justificados pela fé, em Cristo, e podermos compartilhar da sua glória.
Quando olhamos para a Igreja Perseguida, notamos claramente essa verdade aplicada na vida dos nossos irmãos. Primeiramente, é por causa dessa bênção de serem justificados pela fé que enfrentam a perseguição. É por causa de Cristo, que nos justifica, que milhões de cristãos são perseguidos ao redor do mundo e pagam um preço muito alto.
Mas também é somente por meio de Cristo que eles podem encontrar e compartilhar da esperança da glória de Deus e serem fortalecidos. O nome de Cristo é glorificado, pois em meio ao sofrimento, à dor e às lágrimas, os nossos irmãos se firmam e se aproximam cada vez mais dessa esperança.
A perseguição, portanto, se manifesta também como evidência da fé verdadeira, pois onde não há fé, não existe oposição a ela; é também a prova de que o mundo não tem paz com Deus, pois aqueles que não o conhecem vivem em constante conflito com ele e os valores do reino. A igreja de Cristo é a manifestação daqueles que têm fé e possuem paz com Deus. É por isso que a igreja é perseguida!
Quando um cristão é perseguido pela população, governo, familiares e amigos; quando é privado de suas necessidades básicas, preso e açoitado por amor a Cristo; quando é pressionado a negar a fé e a não pregar o evangelho e, ainda assim, prefere a prisão do que ter todos os seus direitos e sua vida, tudo isso resulta em glória para Deus. Isso é se gloriar nas tribulações!
Compartilhamos diversas histórias de irmãos que passaram anos presos, sem expectativas de serem libertos. Há somente uma coisa capaz de motivá-los e fortalecê-los: a esperança da glória de Cristo. É isso que renova os ânimos e está acima de qualquer expectativa terrena. E a nossa oração deve ser para que essa esperança seja renovada no coração de cada cristão preso neste momento! Esse é o convite do autor de Hebreus para nós quando diz:
“Lembrem-se dos que estão na prisão, como se aprisionados com eles; dos que estão sendo
maltratados, como se fossem vocês mesmos que o estivessem sofrendo no corpo.” Hebreus 13.3
Não se trata apenas de uma mera lembrança, mas trazer à mente e coração aqueles que estão na prisão. Isso é um convite para oração! O versículo nos revela a ideia de um vínculo com aqueles que estão sendo maltratados. E muito mais do que isso, nos convida a nos colocarmos no lugar deles, isto é, sentir a mesma dor, confiar na mesma esperança e nos gloriar na mesma tribulação.
Quando a adversidade produz perseverança
Passar por tribulações parece ser algo que faz parte da vida cristã. Mas uma atitude comum quando nos deparamos com a adversidade é reclamar ou murmurar diante de Deus. Mas esse, sem dúvida, não é o tipo de reação que gera perseverança.
A tribulação em si não é o que faz gerar a perseverança em nossos corações. Porém, um coração submisso a Deus reage com confiança quando se depara com a tribulação. E é em meio a essas tribulações que o crente experimenta ainda mais a confiança e, enquanto espera o socorro divino, aprende a suportar a adversidade. Se ele não confia, então se entrega e já não persevera. É isso que gera a perseverança quando Paulo afirma “a tribulação produz perseverança”.
Mas perseverar em quê? Na própria verdade do evangelho que Deus colocou em nossos corações. A tribulação produz em nós determinação (aspecto do termo perseverança) e nos afasta das distrações. Precisamos perseverar nele e por ele. Essa não é uma perseverança que nos colocará em um lugar de destaque onde todos verão que somos vencedores. Não se trata de uma perseverança com valores terrenos e sim valores eternos. Isso deve nos encorajar ainda mais a perseverar com um coração confiante e paciente no Senhor e estarmos determinados a isso.
É perseverante e paciente aquele que sabe que, embora as circunstâncias sejam contrárias ao seu redor, Deus tem cuidado dos seus filhos em cada detalhe. Em vez de murmurar, se submeter; em vez de duvidar, confiar. Quando o mar está agitado, podemos reclamar do vento forte ou confiar naquele a quem até o vento e o mar obedecem (Marcos 4.41).
Por isso, precisamos confiar nosso coração a Deus, que conhece todas as coisas. A fé que nos levou um dia a entregar toda a nossa vida a Cristo deve ser capaz de confiar nele para o socorro em tempos difíceis e de tribulações. E lembre-se: não há ninguém que possa nos dar maior segurança.
A jovem cristã ex-muçulmana do Irã Fatemeh Mohammadi, também conhecida como Mary, que já enfrentou perseguição e foi presa pelas autoridades, experimenta dessa confiança e socorro em meio à tribulação. Ela diz:
“Pense em como você ama profundamente alguém, e sempre que você pensa sobre essa pessoa,
você se conforta. Você sorri inconscientemente e pode suportar tudo. Então nada mais parece
tão importante. Jesus Cristo é assim par a mim. Eu realmente o amo e, no início, fiz um pacto
com ele para permanecer fiel. Ele é meu amor divino que nunca muda”.
Ser visto como uma ameaça desprezível para a sociedade, obrigado a realizar cultos secretamente, perder o prestígio da própria família e, em inúmeros casos, ser preso. Esse é o retrato de muitos irmãos nossos espalhados especialmente por países como Irã, Eritreia e Coreia do Norte.
A determinação desses irmãos se baseia também em saber que, mesmo dentro de prisões terríveis, sob tratamento cruel, não estão sozinhos, mas que nós, a família da fé, estamos unidos pelo corpo de Cristo e os fortalecendo em oração! A tribulação produz perseverança quando nos unimos aos nossos irmãos em oração para que a confiança no Senhor seja constante e o socorro seja urgente.
Caráter aprovado e esperança: maturidade em meio a dor
Finalmente, depois de todo esse processo, o caráter aprovado é gerado. Não é diferente do ouro e da prata que são provados pelo fogo. O caráter aprovado é o resultado da prova a que o crente foi submetido, do início ao fim. É a experiência adquirida a partir da provação. Esse é o perfil de um cristão maduro. E o que isso representa?
Representa sobretudo alguém que confia em Deus e descansa nele, pois sabe que por sua graça ele sempre nos socorre em nossas necessidades. Representa alguém possuidor e uma esperança proveniente da experiência. É alguém que já experimentou o socorro do Senhor e não apenas ouviu a respeito. O caráter aprovado rende glória a Deus, pois a nossa tribulação nos leva ao único lugar onde encontramos esperança real, confiança real e certeza: Deus .
Essa esperança é firmada no amor do próprio Deus que deu seu filho por nós, por isso ela não nos decepciona. É uma segurança infalível e irrevogável! Isso significa que a revelação do amor de Deus para conosco é imensa e transborda em nós, por meio do seu Espírito.
Por isso, não desanimemos quando passarmos pelas provações pois temos a certeza de que, após aprovados, seremos cristãos mais maduros, isto é, mais parecidos com Cristo. E, além disso, temos em nosso coração uma esperança selada pelo amor de Jesus por nós.
Firouzi, um cristão iraniano, diz: “Não tenho medo de ser mandado de volta para a prisão no Irã por dizer a verdade”. Essa afirmação só pode partir de alguém que passou pelas provações, experimentou o socorro do Senhor e possui um caráter aprovado. Sua esperança não falha! Esse mesmo cristão ora pelas autoridades iranianas, e isso reflete um coração que transborda o amor de Deus.
Conclusão
Ninguém, em sã consciência, ama a dor e a tribulação. Porém, todos estão sujeitos, em certa medida, a seus efeitos. Quando olhamos para a Igreja Perseguida é evidente e crescente a perseguição que os nossos irmãos enfrentam diariamente em mais de 70 países. As tribulações, as dores, os escárnios, as prisões e as lágrimas que experimentam têm apenas uma razão: a fé em Cristo.
Contudo, o Cristo que nutre a fé em cada cristão é o único que pode fazer com que, em meio às tribulações, os cristãos sejam determinados e perseverantes. Se gloriar nas tribulações é uma manifestação exclusiva daqueles que foram justificados pela fé. E aqui fica evidente que não há dor, sofrimento ou perseguição que se compare à esperança eterna.
O nosso único salvador, Cristo, é fiel para cuidar e socorrer seus filhos em meio às tribulações terrenas. A Igreja Perseguida é testemunha disso, pois diariamente persevera como resultado da tribulação que enfrenta. Nós precisamos simplesmente confiar nele e entregar nossas vidas em suas mãos.
Por fim, aqueles que vivem e experimentam essa confiança, permanecem firmes através das tempestades e, ao final delas, possuem um caráter aprovado. Não devemos, porém, nos considerar fortes ou demasiadamente fracos para isso, pois não depende de nós mesmos. Devemos, contudo, em nossa debilidade, confiar naquele que já nos salvou e nos garantiu a glória eterna.